
O Que é Parnasianismo?: Conheça a História, Características e a Tríade de Poetas que Transformou a Literatura Nacional
O que é Parnasianismo? Conheça o movimento literário brasileiro que revolucionou a poesia nacional e dominou nossa literatura entre 1880 e 1920, com Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia como principais expoentes.
ARTIGOS
Sebastião Victor Diniz
4/26/20257 min read



O Parnasianismo representou um dos períodos mais importantes e influentes da poesia brasileira, marcando profundamente nossa literatura do final do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Este movimento, que privilegiava a perfeição formal e a "arte pela arte", trouxe consigo uma nova concepção estética que se opunha diretamente aos excessos sentimentais do Romantismo. Com rigor técnico, vocabulário requintado e inspiração clássica, os parnasianos brasileiros elevaram a poesia nacional a um patamar de sofisticação e excelência formal até então inédito em nossas letras.
As Origens do Parnasianismo: Da França para o Brasil
O Parnasianismo surgiu originalmente na França, em meados da década de 1860, como uma reação direta aos excessos sentimentais do Romantismo e como alternativa estética ao Realismo e Naturalismo que começavam a dominar a literatura europeia. O nome do movimento deriva do monte Parnaso, local mitológico da Grécia Antiga considerado morada de Apolo e das musas inspiradoras das artes, simbolizando a busca pela beleza ideal e perfeição estética.
O marco inicial do movimento na França foi a publicação da antologia poética "Le Parnasse Contemporain" ("Parnaso Contemporâneo"), em 1866, que reuniu diversos poetas alinhados com essa nova estética. Entre os principais representantes franceses estavam Théophile Gautier e Leconte de Lisle, considerados os criadores desta vertente literária.
A Chegada ao Brasil e o Contexto Histórico
No Brasil, o Parnasianismo tornou-se uma tendência poética por volta de 1880 e estabeleceu-se como estilo canônico até o início dos anos 1920. O movimento encontrou terreno fértil em um país que vivia intensas transformações políticas e sociais, marcadas pelos seguintes acontecimentos:
Fortalecimento dos movimentos abolicionistas e republicanos
Desgaste do reinado de Dom Pedro II após a Guerra do Paraguai
Abolição da escravatura (1888)
Proclamação da República (1889)
Deslocamento do centro econômico do Nordeste para o Sudeste, impulsionado pela economia cafeeira
Neste cenário de transformações, o Parnasianismo representou uma busca por ordem, disciplina e perfeição formal na literatura, alinhando-se ao pensamento positivista e cientificista que ganhava força no período. O movimento também refletia o desejo de uma elite intelectual brasileira de se aproximar dos valores culturais europeus, especialmente franceses.
Características Fundamentais do Parnasianismo Brasileiro
O Parnasianismo brasileiro caracteriza-se por elementos muito específicos que o diferenciam de outras escolas literárias. Compreender esses elementos é essencial para apreciar a contribuição deste movimento para nossa literatura.
A Estética da "Arte pela Arte"
Uma das bases fundamentais do Parnasianismo foi o princípio da "arte pela arte", defendendo que a produção artística não precisava ter utilidade social ou política, mas deveria ser pura, erudita e voltada exclusivamente para a busca da perfeição estética e do belo. Os parnasianos acreditavam que a poesia não precisava servir a causas políticas ou sociais, afastando-se deliberadamente das questões da realidade presente.
Obsessão pela Forma e Perfeição
Os parnasianos tinham verdadeira obsessão pela forma poética, rejeitando os versos livres do Romantismo em favor de métricas fixas e rigor técnico. Algumas características formais incluíam:
Preferência por métricas tradicionais, especialmente versos alexandrinos (doze sílabas) e decassílabos (dez sílabas)
Rimas regulares e rigorosas
Uso frequente do soneto como forma poética ideal
Comparação do poeta a um ourives, que "lapida" a palavra como uma pedra preciosa
Inversões sintáticas elaboradas para obter efeitos estéticos
Como afirmavam os próprios parnasianos, "a inspiração não era suficiente: a palavra deveria ser lapidada, como o trabalho de um ourives".
Linguagem e Temática
O vocabulário parnasiano era deliberadamente culto, complexo e distante da linguagem coloquial, criando uma espécie de elitização da poesia. As principais características linguísticas e temáticas incluíam:
Vocabulário acurado e complexo, com preferência por palavras raras e eruditas
Distanciamento da linguagem oral cotidiana
Valorização de elementos da Antiguidade Clássica e mitologia greco-romana
Impessoalidade e objetividade, em oposição à subjetividade romântica
Temas universais e reflexivos, evitando questões sociais do presente
Descrições minuciosas de objetos, paisagens e cenas da natureza
A Tríade Parnasiana: Os Mestres da Perfeição Formal
O movimento parnasiano brasileiro teve como seus maiores expoentes três poetas que ficaram conhecidos como a "tríade parnasiana": Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Cada um deles contribuiu de maneira singular para consolidar o movimento no Brasil.
Olavo Bilac: O Príncipe dos Poetas


Olavo Bilac (1865-1918) é considerado o mais conhecido e popular dos poetas parnasianos brasileiros. Nascido no Rio de Janeiro, foi também jornalista, orador e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Defensor fervoroso dos ideais republicanos, Bilac era uma figura ativa na política brasileira, chegando a ser perseguido e preso durante a Revolta da Armada (1893-1894). Sua estreia literária ocorreu com a publicação de "Poesias" em 1888, obra que consolidou sua posição de destaque no cenário literário nacional.
A poesia de Bilac abordava diversos temas, como:
O amor (em suas dimensões platônica, espiritual e sensual)
Referências à mitologia greco-romana
Questões filosóficas e reflexivas sobre o sentido da vida
Temas patrióticos e cívicos
Sua contribuição para a cultura nacional vai além da literatura, sendo também o autor do Hino à Bandeira do Brasil, exemplo da penetração do estilo parnasiano nas composições oficiais brasileiras.
Alberto de Oliveira: O Mestre da Estética


Alberto de Oliveira (1857-1937) é frequentemente considerado o mais perfeito representante do rigor formal parnasiano. Foi um verdadeiro mestre da estética, destacando-se pela perfeição técnica, métrica rígida e linguagem extremamente elaborada.
Seu enquadramento definitivo no Parnasianismo ocorreu a partir de seu segundo livro, "Meridionais", que demonstrava pleno domínio dos preceitos estéticos do movimento. Um de seus poemas mais célebres, "Vaso Grego", é considerado exemplar da estética parnasiana, com sua perfeição formal e referências clássicas.
Na obra de Alberto de Oliveira, percebemos:
Extremo cuidado com a métrica e a rima
Vocabulário requintado e preciosismo linguístico
Descrições minuciosas de objetos e cenas
Referências constantes à cultura clássica
Raimundo Correia: O Poeta das Sinfonias


Raimundo Correia (1859-1911) completava a tríade parnasiana com uma poesia que, embora tecnicamente perfeita conforme os preceitos do movimento, apresentava certa peculiaridade: um tom mais sombrio e filosófico, influenciado pela filosofia pessimista de Arthur Schopenhauer.
Sua trajetória literária é interessante por evidenciar a transição do Romantismo para o Parnasianismo. Sua primeira obra, "Primeiros sonhos" (1879), ainda apresentava traços da poesia romântica, sendo somente com "Sinfonias" (1883) que ele se consolidou como autor parnasiano.
A poesia de Raimundo Correia caracterizava-se por:
Tons mais sombrios e melancólicos
Imagens de ruínas e da moralidade deteriorada
Perfeito domínio da técnica parnasiana
Temas existenciais tratados com rigor formal
Um de seus poemas mais conhecidos, "As pombas", exemplifica perfeitamente seu estilo, combinando a perfeição formal parnasiana com um conteúdo mais reflexivo e simbólico.
Outros Autores Importantes do Parnasianismo Brasileiro
Além da famosa tríade, outros poetas contribuíram significativamente para o desenvolvimento do Parnasianismo no Brasil, como Vicente de Carvalho, Francisca Júlia e Luís Delfino, cada um trazendo sua contribuição única para o movimento, embora não tenham alcançado a mesma projeção que Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
O Legado do Parnasianismo na Literatura Brasileira
O impacto do Parnasianismo na literatura brasileira foi profundo e duradouro. Além de ter se tornado o "método de composição oficial" do país durante décadas, influenciou diversas manifestações culturais e artísticas.
Um exemplo notável dessa influência é a presença do estilo parnasiano nas composições cívicas nacionais. O Hino Nacional Brasileiro, o Hino da Proclamação da República e o Hino à Bandeira do Brasil são todos exemplos de composições que seguem os preceitos estéticos parnasianos, demonstrando como o movimento se tornou parte da identidade cultural oficial do país.
O Parnasianismo também deixou como legado:
Valorização da perfeição técnica na poesia
Contribuição para o enriquecimento do vocabulário poético brasileiro
Consolidação de formas poéticas clássicas na literatura nacional
Estabelecimento de padrões de excelência formal que influenciaram gerações posteriores
O Fim do Movimento e a Transição para o Modernismo
O Parnasianismo manteve-se como estilo dominante na poesia brasileira até o início dos anos 1920, quando começou a ser desafiado pelo surgimento do Modernismo. A Semana de Arte Moderna de 1922 marcou simbolicamente o fim da hegemonia parnasiana na literatura brasileira, propondo uma ruptura radical com o passado e a busca por novas formas de expressão.
Os modernistas criticavam duramente o que consideravam formalismo excessivo e distanciamento da realidade brasileira na poesia parnasiana. Em contraposição ao culto da forma e às referências europeias, propunham uma arte nacional, livre, experimental e conectada com as questões sociais do Brasil.
Contudo, mesmo com o declínio do movimento, o legado parnasiano permaneceu influente na literatura brasileira, e muitos dos valores estéticos defendidos pelos parnasianos – como o cuidado com a linguagem e a busca pela excelência técnica – continuaram a ser respeitados mesmo por seus críticos.
Conclusão: A Importância do Parnasianismo para a Literatura Brasileira
O Parnasianismo representou um momento crucial na evolução da poesia brasileira, estabelecendo padrões de excelência formal que elevaram nossa literatura a novos patamares. Surgido em um contexto de grandes transformações políticas e sociais, o movimento ofereceu uma alternativa estética baseada na ordem, na disciplina e na busca pela perfeição.
Através da obra dos grandes mestres da tríade parnasiana – Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia – e de outros poetas importantes, o Parnasianismo deixou um legado duradouro que transcende seu período histórico. Mesmo após ser oficialmente superado pelo Modernismo, seus valores estéticos e sua contribuição para o enriquecimento da língua portuguesa no Brasil continuam sendo reconhecidos e estudados.
Compreender o Parnasianismo é, portanto, essencial para qualquer estudioso da literatura brasileira, pois representa não apenas um movimento literário específico, mas um capítulo fundamental na construção de nossa identidade cultural e literária.





Escrito por: Sebastião Victor Diniz
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