
O que é Naturalismo? Descubra Sobre Esse Movimento: Origem, Características, Autores e Obras
O que é Naturalismo? Conheça mais sobre esse movimento literário brasileiro: origens, características, autores e obras principais. Um movimento que revolucionou nossa literatura com seu retrato cru da realidade social e sua visão determinista do comportamento humano.
ARTIGOS
Sebastião Victor Diniz
4/15/202516 min read



O Naturalismo representa um dos movimentos literários mais impactantes e revolucionários da história da literatura brasileira, marcando profunda ruptura com as idealizações românticas que o precederam. Surgido no Brasil em 1881 com a publicação de "O Mulato" de Aluísio Azevedo, o movimento caracterizou-se por seu compromisso com a objetividade científica, determinismo biológico e social, e pelo retrato cru da realidade sem filtros ou idealizações. Este artigo explora detalhadamente o movimento naturalista brasileiro, desde suas origens e influências teóricas até suas principais características, autores, obras e legado, oferecendo um panorama completo deste importante capítulo da literatura nacional.
Origens e Contexto Histórico do Naturalismo Brasileiro
O Naturalismo surgiu inicialmente na França, em meados do século XIX, e rapidamente se espalhou por outros países da Europa e do mundo. No Brasil, o movimento teve seu marco inicial oficial em 1881, com a publicação da obra "O Mulato", de Aluísio Azevedo, considerado o precursor do Naturalismo em território nacional.
Esta corrente literária desembarcou no Brasil em um momento de intensas transformações sociais e políticas. O país vivia os últimos anos do Império, com a escravidão caminhando para seu fim (que ocorreria em 1888) e a República sendo gestada (proclamada em 1889). A sociedade brasileira experimentava mudanças estruturais significativas, com o início da industrialização e urbanização, gerando novas tensões sociais que os escritores naturalistas buscavam retratar em suas obras.
Diferentemente do Romantismo, que predominou na literatura brasileira durante grande parte do século XIX com suas idealizações, subjetivismos e fuga da realidade, o Naturalismo propunha uma abordagem objetiva, científica e determinista da realidade social. Este período foi denominado "Ciclo Antirromântico", justamente por sua oposição direta aos ideais e técnicas românticas.
O Naturalismo brasileiro foi fortemente influenciado por autores europeus, especialmente pelo francês Émile Zola, considerado o maior expoente do movimento na Europa, e pelo português Eça de Queirós, autor de obras naturalistas importantes como "O Crime do Padre Amaro" (1875) e "O Primo Basílio" (1878)3. Estas influências foram fundamentais para a formação e desenvolvimento do movimento no Brasil, embora os autores brasileiros tenham adaptado as características europeias à realidade nacional.
Fundamentos Teóricos e Influências Filosóficas
O movimento naturalista foi fundamentado em diversas teorias científicas e filosóficas que emergiam na Europa do século XIX. Entre as principais influências teóricas que moldaram o Naturalismo brasileiro, destacam-se:
Positivismo e Cientificismo
O Positivismo, corrente filosófica desenvolvida por Auguste Comte, valorizava o conhecimento científico como a única forma válida de conhecimento. Os naturalistas adotaram esta perspectiva, utilizando métodos de observação e análise semelhantes aos científicos para explicar o comportamento humano e os fenômenos sociais. Esta confiança quase absoluta na ciência como resposta para todos os problemas humanos (cientificismo) permeava as obras naturalistas, que se propunham a analisar a sociedade como um laboratório.
Darwinismo Social
Uma aplicação distorcida das teorias de Charles Darwin sobre a evolução das espécies ao contexto social humano, o Darwinismo Social argumentava que as sociedades evoluíam através de uma "seleção natural", onde os mais fortes prevaleciam sobre os mais fracos. No contexto do Naturalismo brasileiro, esta influência se manifestava na descrição das lutas pela sobrevivência nas classes mais baixas, frequentemente retratadas em ambientes como os cortiços.
Contraposição ao Romantismo
O Naturalismo surgiu como uma reação direta aos excessos idealistas do Romantismo. Enquanto os românticos idealizavam o amor, a natureza e os personagens, frequentemente fugindo da realidade, os naturalistas focavam nos aspectos mais crus e por vezes brutais da experiência humana, representando a realidade sem filtros ou embelezamentos.
Estas teorias forneceram a base conceitual para a criação de uma literatura que se propunha a analisar cientificamente a sociedade brasileira, observando as leis naturais que regiam o comportamento humano em diferentes contextos sociais.
Características do Naturalismo na Literatura Brasileira
O Naturalismo no Brasil desenvolveu características distintivas que refletiam tanto as influências europeias quanto as particularidades do contexto nacional. Entre as principais características, destacam-se:
Determinismo e Ausência de Livre-Arbítrio
Talvez o traço mais marcante do movimento, o determinismo baseava-se na ideia de que o ser humano não possui livre arbítrio, sendo seu comportamento determinado por três fatores principais: a raça, o meio ambiente e o momento histórico. Esta visão determinista levava os autores a apresentarem personagens que eram produtos de seu ambiente e de sua herança genética, sem possibilidade de escapar de seu destino preestabelecido.
Zoomorfização dos Personagens
Uma técnica literária característica do Naturalismo, a zoomorfização consistia em atribuir características animais aos seres humanos, destacando seus instintos primários e reduzindo-os a criaturas dominadas por desejos básicos como fome, sede e impulso sexual. Esta técnica servia para enfatizar a visão determinista de que o comportamento humano é governado por forças biológicas incontroláveis.
Objetivismo Científico
Os autores naturalistas adotavam uma abordagem que procurava retratar a realidade com imparcialidade e precisão, como se fossem cientistas observando um experimento. Evitavam julgamentos morais explícitos, preferindo deixar que os fatos "falassem por si mesmos", embora a própria seleção dos temas e situações representados já implicasse em uma perspectiva crítica sobre a sociedade.
Antirromantização da Realidade
Em oposição direta ao Romantismo, o Naturalismo rejeitava qualquer forma de idealização em favor de um retrato cru e por vezes brutal da realidade. Os naturalistas focavam nos aspectos mais sórdidos e degradantes da experiência humana, retratando vícios, doenças, comportamentos desviantes e as difíceis condições de vida das classes marginalizadas.
Linguagem Direta e Crua
Os escritores naturalistas empregavam uma linguagem direta que não hesitava em descrever cenas de violência, sexo e miséria com detalhes explícitos. Abandonaram o estilo rebuscado e metafórico do Romantismo em favor de uma prosa mais descritiva e objetiva, muitas vezes chocante para os padrões da época.
Denúncia Social
Embora os naturalistas alegassem objetividade científica, suas obras frequentemente funcionavam como denúncias das injustiças sociais, da miséria urbana, da opressão racial e de outros problemas sociais. O retrato das desigualdades e das condições precárias de vida das classes menos favorecidas serviam como crítica implícita à sociedade brasileira da época.
Abordagem de Temas Controversos
Os naturalistas não hesitavam em abordar temas considerados tabu na sociedade brasileira do século XIX, como a sexualidade, o adultério, o alcoolismo, a prostituição e outras questões moralmente controversas. Esta abordagem direta de temas delicados chocou muitos leitores da época, acostumados às narrativas mais pudicas do Romantismo.
Estas características combinadas criaram um estilo literário distintivo que marcou profundamente a literatura brasileira do final do século XIX e início do século XX, estabelecendo novas possibilidades para a representação da realidade social brasileira.
Principais Autores Naturalistas Brasileiros
O Naturalismo no Brasil contou com diversos escritores talentosos, cada um contribuindo com sua visão particular para o movimento. Entre os principais expoentes, destacam-se:
Aluísio Azevedo (1857-1913)


Considerado o principal representante e pioneiro do Naturalismo no Brasil, Aluísio Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão e foi romancista, contista, jornalista, diplomata e caricaturista. Sua obra é marcada pela crítica social e pela análise das condições de vida das classes menos favorecidas. Além de inaugurar o movimento com "O Mulato" (1881), escreveu aquela que é considerada a obra-prima do Naturalismo brasileiro: "O Cortiço" (1890). Outras obras importantes de sua autoria incluem "Casa de Pensão" (1884) e "O Homem" (1887).
Adolfo Caminha (1867-1897)


Escritor cearense que produziu obras naturalistas marcantes, apesar de sua curta vida (morreu com apenas 29 anos). Sua obra mais conhecida, "Bom-Crioulo" (1895), causou escândalo na época por abordar a homossexualidade de forma direta, sendo considerada a primeira obra da literatura brasileira a tratar do tema com tal profundidade. Caminha também escreveu "A Normalista" (1893), romance que retrata a sociedade provinciana de Fortaleza.
Raul Pompeia (1863-1895)


Escritor fluminense cuja obra mais importante, "O Ateneu" (1888), é considerada uma das obras-primas do Naturalismo brasileiro, embora contenha elementos impressionistas e simbolistas que a afastam do Naturalismo mais ortodoxo. O romance narra a experiência do jovem Sérgio em um internato da elite carioca, revelando a corrupção e a hipocrisia da instituição educacional, vista como um microcosmo da sociedade brasileira. Pompeia tinha um estilo mais subjetivo e psicológico que outros naturalistas, o que confere à sua obra características particulares.
Inglês de Souza (1853-1918)


Advogado e escritor paraense que ambientou suas obras na região amazônica. Entre suas obras naturalistas destacam-se "O Missionário" (1891), que narra a história de um padre que sucumbe aos desejos carnais, e "História de um Pescador" (1876), que retrata a vida ribeirinha na Amazônia. Inglês de Souza trouxe para o Naturalismo brasileiro o cenário amazônico, ampliando o escopo geográfico do movimento, que tendia a se concentrar nas grandes cidades do Sudeste.
Júlio Ribeiro (1845-1890)


Filólogo, jornalista e romancista, autor de "A Carne" (1888), romance naturalista que causou escândalo ao retratar a paixão desenfreada e os desejos sexuais de uma jovem da alta sociedade. A obra foi duramente criticada por sua abordagem explícita da sexualidade feminina, tema ainda tabu na sociedade brasileira da época.
Horácio de Carvalho (1857-1933)


Escritor gaúcho menos conhecido, mas que contribuiu para o movimento com obras como "O Cromo" (1888), romance que retrata a vida provinciana do Rio Grande do Sul. Sua obra, embora menos estudada que a de outros naturalistas, oferece um retrato interessante da sociedade gaúcha do final do século XIX.
Emília Bandeira de Melo (1859-1946)
Mais conhecida pelo pseudônimo Carmem Dolores, foi uma das poucas mulheres a participar do movimento naturalista no Brasil. Suas obras, embora não se restrinjam ao estilo naturalista, apresentam elementos característicos do movimento, como a análise crítica da sociedade e a denúncia das limitações impostas às mulheres.
Estes autores, cada um à sua maneira, contribuíram para o desenvolvimento do Naturalismo no Brasil, adaptando as influências europeias às particularidades da realidade nacional e produzindo obras que permanecem como documentos importantes para a compreensão da sociedade brasileira do final do século XIX.
Obras Fundamentais do Naturalismo Brasileiro
O Naturalismo brasileiro produziu um conjunto de obras significativas que permanecem como referências importantes na história da literatura nacional. Entre as principais, destacam-se:
O Mulato (1881) - Aluísio Azevedo
Considerada a obra inauguradora do Naturalismo no Brasil, "O Mulato" narra a história de Raimundo, um jovem mulato educado na Europa que retorna ao Maranhão e se apaixona por sua prima Ana Rosa123. O relacionamento enfrenta a oposição da família e da sociedade local devido ao preconceito racial. O romance expõe o racismo e a hipocrisia da sociedade maranhense do século XIX, demonstrando como o determinismo racial influencia o destino dos personagens.
O Cortiço (1890) - Aluísio Azevedo
Considerada a obra-prima do Naturalismo brasileiro, "O Cortiço" retrata a vida em uma habitação coletiva no Rio de Janeiro, o cortiço São Romão, e a trajetória de seus moradores, pertencentes às classes mais pobres e marginalizadas da sociedade. A narrativa demonstra como o meio corrompe os indivíduos e determina seus comportamentos, seguindo os preceitos deterministas. Os personagens são apresentados de forma zoomorfizada, reduzidos aos seus instintos mais básicos. O romance estabelece um paralelo entre o cortiço (representando o Brasil) e o sobrado vizinho (representando Portugal), simbolizando as relações de exploração entre as duas nações.
O Ateneu (1888) - Raul Pompeia
Romance que narra as experiências do jovem Sérgio em um internato de elite do Rio de Janeiro. A obra retrata o microcosmo do internato como reflexo da sociedade brasileira, destacando a corrupção moral, as relações de poder e a hipocrisia institucional. "O Ateneu" apresenta uma visão determinista do meio como fator corruptor, um dos princípios fundamentais do Naturalismo. A obra apresenta uma narrativa em primeira pessoa e um estilo mais subjetivo e impressionista que outras obras naturalistas, revelando as influências diversas que moldaram o estilo de Pompeia.
Bom-Crioulo (1895) - Adolfo Caminha
Romance que causou escândalo na época por retratar um relacionamento homossexual entre Amaro, um marinheiro negro ex-escravo (o "bom crioulo" do título), e Aleixo, um jovem marinheiro branco. A obra aborda temas controversos como a homossexualidade, o racismo e a violência, sempre sob a ótica determinista que considera esses comportamentos como produtos do meio e da hereditariedade. "Bom-Crioulo" é considerado um dos primeiros romances a abordar explicitamente a homossexualidade na literatura brasileira.
A Carne (1888) - Júlio Ribeiro
Romance que narra a história de Lenita, uma jovem educada e de família abastada que, após a morte do pai, vai morar na fazenda de um amigo da família. Lá, ela se envolve com o filho do fazendeiro, Manuel Barbosa, em uma relação marcada pela forte atração sexual. A obra causou escândalo por sua abordagem direta da sexualidade feminina, tratada como uma força natural e instintiva, seguindo os preceitos deterministas do Naturalismo.
O Missionário (1891) - Inglês de Souza
Romance ambientado na região amazônica que narra a história do padre Antônio de Morais, que sonha em se tornar bispo, mas acaba sucumbindo aos desejos carnais. A obra critica a hipocrisia religiosa e mostra a influência do meio amazônico sobre o comportamento humano, seguindo a visão determinista característica do Naturalismo. O romance destaca-se por trazer para o Naturalismo o cenário amazônico, expandindo o escopo geográfico do movimento.
Estas obras representam os exemplos mais significativos do Naturalismo brasileiro, cada uma explorando diferentes aspectos da sociedade nacional sob a ótica determinista e objetiva característica do movimento. Elas permanecem como importantes documentos literários e históricos para a compreensão da sociedade brasileira do final do século XIX.
Temas Recorrentes na Literatura Naturalista Brasileira
Os escritores naturalistas brasileiros abordavam uma ampla gama de temas, geralmente relacionados a problemas sociais e comportamentos considerados desviantes ou tabus. Entre os temas mais recorrentes, destacam-se:
Crítica Social e Retrato das Desigualdades
Presente em praticamente todas as obras naturalistas, os autores buscavam expor e denunciar as injustiças e desigualdades da sociedade brasileira. Retratavam a miséria das cidades, as péssimas condições de vida das classes menos favorecidas e a exploração dos trabalhadores, criando um retrato complexo e muitas vezes perturbador da realidade social brasileira do final do século XIX.
Questões Raciais e Preconceito
Tema especialmente relevante no contexto brasileiro do final do século XIX, quando a escravidão chegava ao fim e teorias racistas pseudocientíficas ganhavam força. Obras como "O Mulato" abordavam diretamente o preconceito racial, mostrando como ele influenciava as relações sociais e determinava o destino dos indivíduos. É importante notar, porém, que muitos autores naturalistas, influenciados pelas teorias deterministas da época, acabavam reproduzindo visões racistas em suas próprias obras.
Sexualidade e Instintos Primários
Os naturalistas abordavam abertamente temas como a homossexualidade, o adultério, a prostituição e os desejos sexuais, frequentemente apresentados como manifestações de instintos animalescos inerentes à natureza humana. A sexualidade era vista como uma força natural e incontrolável, que determinava o comportamento humano independentemente das convenções sociais ou morais.
Influência do Meio Social no Indivíduo
Tema central do Naturalismo, baseado na ideia de que o ambiente em que as pessoas vivem determina seu comportamento e seu destino. Obras como "O Cortiço" exploravam detalhadamente como o meio social corrompia os indivíduos, levando-os a comportamentos considerados degradantes ou imorais, independentemente de sua vontade ou caráter inicial.
Crítica às Instituições Tradicionais
Os naturalistas frequentemente criticavam instituições como a Igreja, o Estado e a família, retratando-as como corruptas, hipócritas ou opressoras. Criticavam o conservadorismo e o tradicionalismo destas instituições, expondo suas contradições e falhas, como exemplificado na crítica ao sistema educacional em "O Ateneu" ou à Igreja em "O Missionário".
Vícios e Patologias Sociais
Temas como o alcoolismo, a jogatina, a violência doméstica e outros comportamentos autodestrutivos eram comuns nas obras naturalistas. geralmente apresentados como consequências inevitáveis do meio social degradado ou da hereditariedade. Os naturalistas viam estes comportamentos como manifestações de determinismos biológicos ou sociais, não como escolhas morais individuais.
Vida Urbana e Suas Mazelas
Tema que ganhou relevância com o crescimento das cidades brasileiras no final do século XIX. Os naturalistas retratavam os cortiços, as epidemias, a pobreza urbana e outros problemas decorrentes da urbanização desordenada, oferecendo um retrato detalhado dos problemas sociais que acompanhavam o processo de modernização do país.
Transformações Sociais e Políticas
Contextualizadas no período de transição do Império para a República e do sistema escravista para o trabalho livre. Os escritores naturalistas frequentemente comentavam sobre estas transformações em suas obras, analisando seus impactos na sociedade brasileira e as continuidades e rupturas que caracterizavam este período de intensas mudanças.
Estes temas eram abordados com uma linguagem direta e crua, sem as idealizações e eufemismos característicos do Romantismo, o que contribuía para o impacto crítico e social das obras naturalistas. Através deles, os autores construíam um retrato complexo e multifacetado da sociedade brasileira do final do século XIX, expondo suas contradições, problemas e desigualdades.
O Declínio do Naturalismo e seu Legado
O Naturalismo como movimento literário dominante começou a perder força no Brasil no início do século XX, com o surgimento de novas correntes estéticas como o Simbolismo e, posteriormente, o Modernismo. No entanto, muitas das técnicas e preocupações sociais dos naturalistas continuaram a influenciar a literatura brasileira nas décadas seguintes.
Fatores que Contribuíram para o Declínio
O declínio do Naturalismo pode ser atribuído a diversos fatores. As teorias científicas que embasavam o movimento, como o determinismo racial e o darwinismo social, começaram a ser questionadas e revisadas no início do século XX, perdendo sua credibilidade científica. Além disso, o estilo por vezes mecânico e excessivamente descritivo das obras naturalistas começou a parecer ultrapassado diante das inovações estéticas que surgiam na Europa e influenciavam os escritores brasileiros.
A Semana de Arte Moderna de 1922 marcou definitivamente a superação dos estilos literários do século XIX, incluindo o Naturalismo, em favor de uma abordagem mais experimental e inovadora. No entanto, é importante ressaltar que muitos escritores modernistas, como Graciliano Ramos e Jorge Amado, mantiveram em suas obras preocupações sociais semelhantes às dos naturalistas, embora expressas através de técnicas literárias diferentes.
O Legado Duradouro do Naturalismo
O legado do Naturalismo na literatura brasileira é significativo e duradouro. Entre suas principais contribuições, destacam-se:
Introdução de Temas Sociais e Políticos
O Naturalismo consolidou a tradição de engajamento social na literatura brasileira, criando um precedente para gerações de escritores que viram na literatura um instrumento de análise e crítica da realidade social. Esta preocupação com questões sociais e políticas tornou-se uma característica marcante da literatura brasileira no século XX.
Técnicas Narrativas Inovadoras
O desenvolvimento de técnicas narrativas focadas na descrição detalhada e na análise dos ambientes e personagens influenciou o realismo social do século XX. A abordagem "científica" e analítica dos naturalistas estabeleceu novas possibilidades para a representação literária da realidade social.
Documentação Histórica e Social
As obras naturalistas fornecem um valioso registro literário de um período crucial da história brasileira, oferecendo retratos vívidos da sociedade no final do Império e início da República. Estes retratos, embora ficcionais, oferecem insights importantes sobre as condições sociais, culturais e políticas do Brasil neste período de transição.
Crítica Social Consistente
A crítica às desigualdades sociais e aos preconceitos presente nas obras naturalistas contribuiu para o debate público sobre estas questões, estabelecendo a literatura como um espaço importante para a discussão de problemas sociais. Esta função crítica da literatura permanece como um dos legados mais importantes do Naturalismo.
Assim, embora o Naturalismo como movimento literário específico tenha tido uma duração relativamente curta no Brasil (aproximadamente de 1881 até o início do século XX), sua influência se estendeu muito além deste período, contribuindo para a formação da identidade da literatura brasileira moderna e estabelecendo tradições temáticas e estilísticas que continuam a ressoar na produção literária contemporânea.
Conclusão
O Naturalismo representa um capítulo fundamental na evolução da literatura brasileira, marcando uma ruptura significativa com o Romantismo e introduzindo novas formas de representar a realidade social do país. Iniciado em 1881 com "O Mulato" de Aluísio Azevedo, o movimento produziu algumas das obras mais importantes e duradouras da literatura nacional, como "O Cortiço", "O Ateneu" e "Bom-Crioulo".
Baseando-se em teorias científicas e filosóficas em voga no século XIX, como o determinismo, o positivismo e o darwinismo social, os escritores naturalistas buscavam analisar a sociedade brasileira com objetividade científica, destacando a influência do meio, da raça e do momento histórico sobre o comportamento humano. Através de uma linguagem direta e crua, abordaram temas controversos como a sexualidade, a miséria urbana, o racismo e a corrupção institucional, construindo um retrato multifacetado e crítico da sociedade brasileira do final do século XIX.
Autores como Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha e Raul Pompeia produziram obras que permanecem como marcos na literatura brasileira, não apenas por seu valor estético, mas também por seu significado histórico e social. Estas obras oferecem um valioso registro das condições sociais, culturais e políticas do Brasil em um período de intensas transformações, como a abolição da escravatura e a transição do Império para a República.
Embora o Naturalismo como movimento literário dominante tenha entrado em declínio no início do século XX, seu legado permanece vivo na literatura brasileira contemporânea. A tradição de engajamento social, a ampliação dos temas literários, as técnicas narrativas inovadoras e a função crítica da literatura são aspectos que continuam a ressoar na produção literária atual, demonstrando a permanência e a relevância das contribuições do Naturalismo para a cultura brasileira.
Assim, o Naturalismo não foi apenas um momento pontual na história literária do Brasil, mas um movimento que contribuiu significativamente para a formação da identidade cultural brasileira, documentando um período crucial de transformações sociais e políticas e estabelecendo uma tradição de literatura engajada com as questões sociais que permanece como uma das características mais importantes da literatura brasileira.




Escrito por: Sebastião Victor Diniz
Gostou?
Então compartilhe e nos siga em todas as nossas redes sociais, para nessa aventura com a gente embarcar.
Leia também
